A CRIANÇA CANGURU
Muito prazer. Sou a criança canguru. Ando sempre de um lado para o outro e tenho a agenda de um tecnocrata. Sou uma pessoa séria e muito ocupada .E se alguma vez faço bico ou interpreto uma valente birra, sou logo relembrado por um adulto << Que ideia é esta de fazer estas figuras à frente de toda a gente?!>>
É a mais pura verdade, sou a criança canguru, a nova criança do mercado. Tenho que ser rápido e lógico, não há tempo a perder. Tenho de realizar com um grande sorriso todas as tarefas que pensam para mim. Coisas de adultos. Pensadas por adultos. Para criança fazer.
Todos os dias, acordo de manhã , engulo os cereais e voo para o carro. É preciso ser rápido na hora de apertar o cinto, pois os meus pais estão sempre atrasados. Depois de ficar entalado no trânsito, despacham- me para a escola.
Por aqui, todos têm o nariz a escorrer. Fazer barulho, é algo proibido. Temos que nos comportar como adultos. Isso de ser criança, já está fora de moda… o grito do momento é ser bem educado e nada de ter ideias! E claro, o mais importante, respeitar a professora.
Mas por acaso ,será que tenho direito a receber uma quota de respeito? Porque sinceramente dava jeito que se lembrassem, de vez em quando, de perguntar -me sobre as coisas que gosto de fazer. Também era muito importante, ter tempo para ouvir as respostas…
Desculpem…não posso perder - me em divagações, onde estávamos?…Ah! na aula…por acaso estávamos entretidos a ver livros e a observar imagens. Falamos sobre plantas, sobre folhas e então, lembrei-me da quinta do meu avô e quero contar uma coisa muitíssimo interessante…mas a professora, muito preocupada que bebamos todas as palavrinhas que lhe saem pela boca, faz cara de pouco caso e diz que não tem tempo para estas conversas.
E zás! Saltamos para a matématica. Matemática?! Mas calma, eu ainda estou a sonhar com folhas…e a quinta do meu avô. Meninos! Estejam todos quietos! Há coisas muito mais sérias para fazer. Contas! Uma folha cheia delas, e há um tempo a cumprir, pois quem não cumpre o relógio e anda em outro ritmo, terá sérios problemas.
Não consegui terminar as contas. E acabo de ganhar uma bolinha amarela para aprender a ficar calado. E agora, o que é que eu faço com esta bolinha, treino para as Olimpíadas de 2012 no Rio, ao som do samba e na delícia das praias, ou aprendo a esquecer de mim mesmo e sigo o caminho desenhado por outras pessoas?
Já no recreio ,devoro minha sandes num segundo. Hoje o recreio é mais curto, porque temos que ensaiar. Tenho fome… Mas como uma verdadeira criança canguru, lá vou eu aos saltos para o ensaio da “Festa do Pai”.
Que tristeza, isto não parece nada uma festa. O professor de música, já roxo de tanto gritar, balança os braços de um lado a outro e no fundo da sala vejo o meu amigo João, que tem um ar tão triste que deixaria até uma fada deprimida. Já há muitos anos que o seu Pai é uma estrela no céu... Não sei porque temos que celebrar estas datas estúpidas…
Voltamos à sala. E fico contente porque é o momento das artes plásticas. Mas a felicidade de uma criança canguru dura muito pouco. Temos que preparar uma prenda para o pai. E sem mais demoras uma gravata, já cortada em cartolina, cai de para -quedas à minha frente, e tenho que decora-la, com umas bolas e umas tiras de papel que estão dentro de uma caixa.
Já estou a imaginar, o meu pai que é surfista, a receber uma prenda destas, vai logo ver, que não foi ideia minha… Se pudesse escolher, desenhava um cavalo marinho que com certeza faria mais sucesso.
Ai,ai… e aqui estou eu, a colar bolinhas e tirinhas, para deixar mais uma vez um adulto feliz. Porque os adultos meus amigos, não gostam nada de ser contrariados…(suspiro) e nunca mais chega o fim de semana.
É a mais pura verdade, sou a criança canguru, a nova criança do mercado. Tenho que ser rápido e lógico, não há tempo a perder. Tenho de realizar com um grande sorriso todas as tarefas que pensam para mim. Coisas de adultos. Pensadas por adultos. Para criança fazer.
Todos os dias, acordo de manhã , engulo os cereais e voo para o carro. É preciso ser rápido na hora de apertar o cinto, pois os meus pais estão sempre atrasados. Depois de ficar entalado no trânsito, despacham- me para a escola.
Por aqui, todos têm o nariz a escorrer. Fazer barulho, é algo proibido. Temos que nos comportar como adultos. Isso de ser criança, já está fora de moda… o grito do momento é ser bem educado e nada de ter ideias! E claro, o mais importante, respeitar a professora.
Mas por acaso ,será que tenho direito a receber uma quota de respeito? Porque sinceramente dava jeito que se lembrassem, de vez em quando, de perguntar -me sobre as coisas que gosto de fazer. Também era muito importante, ter tempo para ouvir as respostas…
Desculpem…não posso perder - me em divagações, onde estávamos?…Ah! na aula…por acaso estávamos entretidos a ver livros e a observar imagens. Falamos sobre plantas, sobre folhas e então, lembrei-me da quinta do meu avô e quero contar uma coisa muitíssimo interessante…mas a professora, muito preocupada que bebamos todas as palavrinhas que lhe saem pela boca, faz cara de pouco caso e diz que não tem tempo para estas conversas.
E zás! Saltamos para a matématica. Matemática?! Mas calma, eu ainda estou a sonhar com folhas…e a quinta do meu avô. Meninos! Estejam todos quietos! Há coisas muito mais sérias para fazer. Contas! Uma folha cheia delas, e há um tempo a cumprir, pois quem não cumpre o relógio e anda em outro ritmo, terá sérios problemas.
Não consegui terminar as contas. E acabo de ganhar uma bolinha amarela para aprender a ficar calado. E agora, o que é que eu faço com esta bolinha, treino para as Olimpíadas de 2012 no Rio, ao som do samba e na delícia das praias, ou aprendo a esquecer de mim mesmo e sigo o caminho desenhado por outras pessoas?
Já no recreio ,devoro minha sandes num segundo. Hoje o recreio é mais curto, porque temos que ensaiar. Tenho fome… Mas como uma verdadeira criança canguru, lá vou eu aos saltos para o ensaio da “Festa do Pai”.
Que tristeza, isto não parece nada uma festa. O professor de música, já roxo de tanto gritar, balança os braços de um lado a outro e no fundo da sala vejo o meu amigo João, que tem um ar tão triste que deixaria até uma fada deprimida. Já há muitos anos que o seu Pai é uma estrela no céu... Não sei porque temos que celebrar estas datas estúpidas…
Voltamos à sala. E fico contente porque é o momento das artes plásticas. Mas a felicidade de uma criança canguru dura muito pouco. Temos que preparar uma prenda para o pai. E sem mais demoras uma gravata, já cortada em cartolina, cai de para -quedas à minha frente, e tenho que decora-la, com umas bolas e umas tiras de papel que estão dentro de uma caixa.
Já estou a imaginar, o meu pai que é surfista, a receber uma prenda destas, vai logo ver, que não foi ideia minha… Se pudesse escolher, desenhava um cavalo marinho que com certeza faria mais sucesso.
Ai,ai… e aqui estou eu, a colar bolinhas e tirinhas, para deixar mais uma vez um adulto feliz. Porque os adultos meus amigos, não gostam nada de ser contrariados…(suspiro) e nunca mais chega o fim de semana.
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