NÃO TENHO O MENOR JEITO PARA PINTAR

E foi assim que desafiou a página em branco.Olhou-a com ar de desafio e depois de um leve suspiro, inclinou-se para a mesa, deixou o queixo a cair nas mãos e disse:
-Não tenho o menor jeito para pintar.
Nestes momentos, o melhor mesmo é ficar calado,encontrar o olhar mais empático que possamos ter, e manter o ambiente calmo,sem expectativas.
Não sei porque vivemos numa época em que não se consegue suportar o vazio. Temos que rapidamente oferecer soluções para tudo. Se alguém tem uma dor, desenterramos uma receita do tempo da avó para dores musculares. Se alguém fala de um problema, rapidamente outra pessoa, já começa a contar as suas lamurias.
É impossível habitar o vazio. Mas como compreendo que estar vazio faz parte das nossas perdas e reconstruções, permaneci calma.Eu mesma,durante muito tempo acreditei que não sabia pintar, foi uma herança causada por professores da velha guarda que acreditavam que a beleza plástica, nasce de um desenho baseado na observação da realidade.
Calei-me,mas não me dei por rendida, estendi uma folha de papel cenário e a assobiar uma canção,  espalhei tintas por todos os lados.
A menina olhou para o papel e ligou-se a imagem, melhor que isso ,sentiu o prazer e o desprendimento que eu tinha no simples ato de pintar.Percebeu que não pintava, brincava com as cores .E assim, levantou-se e  deu movimento as tintas
Depois, sentamos juntas em silêncio, com um leve sorriso nos lábios.
Afinal,quem disse que a pintura não pode ser a nossa arte?

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